19/04/2023 13h20min - Meio Ambiente
2 anos atrás

Agrofloresta em aldeia indígena traz esperança de unir família em torno da terra

Propriedade recebe Sistema SAF (Sistema Agroflorestal Biodiverso)

Foto:Ricardo Campos Jr, Comunicação Agraer ► 

Odilo Balta / jornalcorreiodosul@terra.com.br
Fonte: Assessoria de Comunicação


Ele sabe que os jovens são recrutados pela necessidade de gerar renda. Contudo, o agricultor familiar agora tem a esperança de que no futuro as coisas sejam diferentes.

A propriedade, que fica na aldeia Cachoeirinha, em Miranda, recebeu uma unidade experimental de SAF (Sistema Agroflorestal Biodiverso) no fim de março. Essa técnica consiste em plantar espécies vegetais medicinais, frutíferas e alimentícias e uma diversidade de árvores (semeadas e plantadas), garantindo a sustentabilidade do sistema.

Trata-se do mesmo princípio das roças ancestrais indígenas, que abriam clareiras nas matas e faziam agricultura itinerante. 

A diferença é que agora eles foram estudadas e sistematizados pela ciência.

Quando o SAF estiver a todo o vapor, Arildo espera que os filhos estejam tão envolvidos nos cuidados com as plantas, com a colheita e venda dos produtos que não vão mais precisar buscar empregos fora de casa.

“Meus filhos ainda vão porque precisam, mas eu não quero que eles continuem com esses trabalhos distantes. Haverá muito o que fazer aqui. Nós entendemos que hoje eles querem ir para contribuir e ajudar a família, mas ao mesmo tempo eles sabem o valor que é cuidar da própria terra”, diz Arildo.

O plantio foi coordenado pelo doutor em Desenvolvimento Rural e pesquisador do Cepaer (Centro de Pesquisa e Capacitação da Agraer) Tércio Fehlauer em parceria com o Coletivo Indígena Caianás.

A unidade experimental faz parte de um projeto financiado pela Fundect (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul) que pretende avaliar dinâmicas de fertilidade e teor de matéria orgânica de solos desse tipo de área.

Se voluntariaram para ajudar a também pesquisadora do Cepaer e mestre em Agroecossistemas Camila Pellizzoni, a zootecnista Jovelina Oliveira e a engenheira agrônoma Francimar Perez, todas da Agraer. 

O grupo ficou completo com o próprio Arildo, esposa, cunhado e filhos, mostrando que mesmo engatinhando, o estudo já une a família em torno da terra.

Árduo, mas gratificante

Os trabalhos começaram cedo com a chegada da equipe da Agraer levando parte das mudas que serão transplantadas para a área. A propriedade, chamada de Vila Kaianás (em referência ao coletivo), fica na Aldeia Cachoeirinha, em Miranda.

Arildo havia providenciado o preparo do solo com antecedência. O grupo mediu e marcou com linhas de barbante os locais onde seriam colocadas as plantas. Tércio explicou que nem todas seriam implantadas neste primeiro momento. “Algumas precisam de sombra para se desenvolverem, então é preciso aguardar as primeiras crescerem”.

Arildo, usando um maquinário comprado com recursos do projeto de pesquisa, abriu as covas no solo, que receberam adubos, calcário e, por fim, as mudas. Todo esse serviço durou o dia inteiro. O trabalho foi coroado com o verde colorindo a terra escura.

“Existe uma lógica no plantio de uma SAF. Cada espécie atua de uma maneira diferente dentro do sistema. Algumas, por exemplo, se desenvolvem logo de início e vão melhorando o solo para que as árvores mais lentas cresçam depois. 

Um dos pontos principais será a poda. Os resíduos gerados pelos cortes não são jogados fora, mas vão se incorporando ao solo para servir como matéria orgânica”, explica o pesquisador.

É por isso, segundo ele, que nas florestas a terra é preta, pois as árvores caem, apodrecem e melhoram a qualidade do solo. “A atuação do homem, em nosso caso, é para que esse processo seja acelerado”.

Arildo já era acostumado a plantar em sua propriedade, “mas não tinha o conhecimento técnico que eu estou ganhando aqui hoje”, pondera. Segundo ele, o indígena tem uma forma diferente de se relacionar com a terra, com uma espécie de gratidão por todos os benefícios que ela traz.

“Nós sempre ensinamos a nossos filhos que eles precisam aprender a valorizar a terra. 

Quando eu olho as mudas, eu não vejo simplesmente plantas. 

Eu vejo crianças. E vamos cuidar delas porque lá na frente, elas vão cuidar de nós fornecendo o alimento”, completa o terena.

Fonte: Ricardo Campos Jr, Comunicação Agraer