Campo Grande News ► Segundo delegado (em pé, à direita), Comando Vermelho foi buscar nova rota no Acre. Na foto, Polícia faz prisões.
Odilo Balta / jornalcorreiodosul@terra.com.br
Fonte: Campo Grande News
A execução do narcotraficante Jorge Rafaat Toumani, em 15 de junho de 2016, na fronteira do Paraguai com Mato Grosso do Sul, mudou a geopolítica do crime e refletiu no Acre.
Sem Rafaat, a fação criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) avançou seu domínios sobre Pedro Juan Caballero, vizinha a Ponta Porã , forçando a migração do Comando Vermelho para o Estado da região Norte, cujo atrativo é um labirinto fluvial que permite buscar drogas no Peru e Bolívia.
“A partir da execução do Jorge Rafaat, a gente acredita que houve racha entre as principais facções e o PCC tenha dominado a maior parte da rota do tráfico no Paraguai.
Na tentativa do Comando Vermelho, de buscar novas alternativas, entrou no cenário a Amazônia e, consequentemente, o Acre”, afirma o delegado Elton Futigami, coordenador do núcleo de combate ao crime organizado da delegacia de Polícia Civil de Cruzeiro do Sul, segundo maior município do Acre.
O aumento da presença do CV na fronteira do Acre e Peru fomentou a disputa com o Bonde dos 13, uma ramificação local do PCC. A briga pelo tráfico de armas e drogas traz as marcas bem conhecidas em Mato Grosso do Sul, como execuções e aumento da violência.
“Depois de 2016 houve uma crescente na curva da violência. Uma guerra acirrada entre as facções pelas rotas do tráfico e armas. O Acre é um Estado com baixa densidade demográfica, quem matava e quem morria era conhecido. Eram brigas de bar, crimes conjugais.
Os casos agora são de execução, com requintes de crueldade. As duas facções estão muito equilibradas”, afirma Elton, que é natural de Fátima do Sul (MS) e há dez anos trabalha em Cruzeiro do Sul.
No Peru, o quilo da cocaína pura é cotado a 2.800 dólares, enquanto que maconha custa R$ 200, já incluído o pagamento do “mula”. Ainda de acordo com o delegado, o Peru ganha projeção na produção de maconha, antes marca registrada do Paraguai.
“Até poucos anos atrás, não tínhamos grandes apreensões de maconha. Segundo informações, decorrente de interrogatórios, a maconha do Peru não era de qualidade, mas o cenário mudou. E o preço é muito favorável”, afirma o delegado.
Além de tráfico e o rastro de violência deixado pelo embate entre as facções, Mato Grosso do Sul e o Acre também compartilham as fronteiras escancaradas.
“Vejo as facções como um vírus, que encontrou na região o hospedeiro ideal. A fronteira aberta, vulnerável é um dos atrativos que as facções enxergaram”, compara o delegado. Segundo ele, é preciso fortalecer a atuação do Exército e a PF (Polícia Federal) na fronteira.
O crime não leva à toa o nome de organizado. O chefe do CV no Acre, por exemplo, mora no Peru e comanda as ações a 150 km de Cruzeiro do Sul. Já um dos “conselheiros” do Bonde dos 13 tinha contato direto com o PCC de Mato Grosso do Sul.
Crimes de fronteira – A rota entre Paraguai e Mato Grosso do Sul primeiro serviu ao contrabando de café e whisky. Para sonegar imposto, o produto brasileiro, até hoje um dos mais importantes da balança comercial, viajava ao Paraguai. Enquanto a bebida de alto teor alcoólico fazia o caminho inverso.
Entre o fim da década de 1970 e começo dos anos 80, quando o contrabando de café deixa de ser atrativo, entra em cena a maconha, já cultivada no Paraguai. Depois, a cocaína, o produto com maior valor agregado entre a origem e a venda. O mercado rentável atraiu o Comando Vermelho e o PCC.