Odilo Balta / jornalcorreiodosul@terra.com.br
Fonte: Campo Grande News
O fogo começou cedo no Pantanal, este ano. Tanta antecedência não era esperada, nem pelos pesquisadores, nem pelos moradores tradicionais.
Houve combate às chamas até durante o período de cheia e houve um junho crítico como nenhum outro nos últimos 22 desses meses analisados ano a ano pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Parte disso pode ser explicado pelas mudanças climáticas provocadas pela ação humana. Estudo divulgado hoje (8) pelo grupo WWA (World Weather Attribution), apontou que elas levaram o Pantanal a ter condições de quatro a cinco vezes mais favoráveis para o fogo começar e se alastrar em junho.
As chamas foram impulsionadas pelo aumento das temperaturas e a redução das chuvas. A falta de precipitação deixou – e ainda deixa, porque não chove significativamente por lá há mais de três meses – o ar seco e a vegetação altamente inflamável.
Essas condições são extremamente raras no bioma. Antes, elas eram observadas a cada 160 anos, afirma a pesquisadora do Lasa (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais), Renata Libonati. Mas passaram a ser muito mais frequentes, como destaca o WWA, e já são esperadas a cada 35 anos.
Mato Grosso do Sul foi o Estado onde o Pantanal mais virou cinzas em junho e em todo o ano até agora. Somente naquele mês, a perda foi de 411 mil hectares. Até ontem (6), ela era superior a 1 milhão de hectares. Se for considerado também o que queimou em Mato Grosso, a área é equivalente à metade do território da Bélgica.
Pode piorar
O aquecimento global já bateu a marca de 1,5ºC no planeta, segundo o serviço climático da União Europeia. Se os 2ºC forem atingidos, as condições serão ainda mais extremas e mais favoráveis aos incêndios no Pantanal.
No mesmo estudo citado aqui, o WWA estima que o fogo intenso em junho pode se tornar 17% mais provável e duas vezes mais frequente.
Medidas
O Pantanal é a maior área alagável do mundo. O regime de chuvas e a sua relação com a fauna e flora são o coração do bioma.
O estudo do WWA indica que medidas para evitar o desequilíbrio climático, são reduzir a emissão de combustíveis substituindo as fontes de energia por opções renováveis e mais limpas, além de impedir o desmatamento e reforçar as proibições às queimadas controladas feitas para o manejo das áreas.
“À medida que as emissões de combustíveis fósseis aquecem o clima, as zonas úmidas aquecem, secam e transformam-se numa caixa de pólvora. Isso significa que pequenos incêndios podem rapidamente se transformar em incêndios devastadores, independentemente de como começaram", destaca a pesquisadora Clair Barnes, do Grantham Institute, centro de estudos sobre mudanças climáticas da Inglaterra.
Sobre as queimadas controladas, Renata Libonate defende que a janela permitida seja encurtada. Ela acredita que a Lei do Manejo Integrado do Fogo sancionada em 31 de julho deste ano, é um passo importante para a gestão dos incêndios no bioma.
Sanção da Lei do Manejo Integrado do Fogo ocorreu em Corumbá (MS); na foto, o governador Eduardo Riedel ao lado de Lula e da ministra Marina Silva (Foto: Henrique Kawaminami)
"[A lei] é uma luz uma luz no fim do túnel. É o primeiro passo e um passo importante que o Brasil deu de forma pioneira, internacionalmente, para que passe a haver uma nova forma de gestão de incêndios florestais, o que vai trazer inúmeros benefícios para todos", afirma a pesquisadora do Lasa.
Causas imediatas
Libonate lembra que as mudanças climáticas se somam a questões imediatas para influenciar o aumento dos incêndios no Pantanal, sendo elas 99% relacionados à ação humana. "Sejam acidentais, sejam intencionais. A maioria não é relacionada a causas naturais, como a ocorrência de raios", reforça.
A pesquisadora acrescenta que a resposta aos incêndios, na forma de combate, é satisfatória. Porém, as características do fogo e as condições meteorológicas tornam esse trabalho difícil demais e inglório. "É preciso atuar mais em prevenção", pontua.
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