ÁlvaroRezende ► Recolhimento será feito em vários bairros da cidade
Odilo Balta / jornalcorreiodosul@terra.com.br
Fonte: Campo Grande News
O primeiro dia de ação de combate a dengue em parceria com militares recolheu pelo menos 1,2 mil pneus nos nove bairros visitados pelas equipes da prefeitura e do Exército, o que totaliza cerca de cinco toneladas.
Segundo o chefe de serviço do Controle de Vetores e Endemias, Wagner Ricardo dos Santos, o número já era esperado pelas equipes devido ao tempo que o serviço não era realizado nas borracharias.
No bairro Jardim Noroeste, por exemplo, em menos de uma hora de trabalho a equipe recolheu 146 pneus em apenas três borracharias. Com a caçamba lotada, a logística consiste em levar o material para descarte em um eco ponto próximo ao terminal Nova Bahia e, na sequência, retornar a região para visitar outros estabelecimentos.
Só no Jardim Noroeste, que pertence a região norte da cidade, a expectativa era passar em seis borracharias. Mais sete bairros compõem a região. Como a demanda de trabalho foi grande, os demais bairros serão visitados a partir desta quinta-feira (10), já que os militares só foram liberados para auxiliar os agentes de saúde no período matutino.
Para Roberto Carlos Dias, dono de uma bicicletaria localizada na Avenida Adventor Divino de Almeida, o trabalho é importante no sentido de auxiliar no transporte dos pneus. “Nem todo mundo tem condições de levar o material toda semana para descarte, e por isso acaba acumulando”, diz.
Ele ressalta que procura fazer o descarte quando acumula de dez a 15 pneus em seu estabelecimento e para evitar que acumulem água, ele faz um corte em uma das laterais, para o escoamento de líquidos, evitando que se transformem em criadouros do Aedes aegypti.
“Eu faço a minha parte, mas tem muito vizinho aqui que não se importa com a limpeza e joga lixo na rua”, reclama Roberto, que leva os pneus para uma empresa especializada em descarte,na saída para Cuiabá.
Falta de responsabilidade – A movimentação dos militares no bairro chamou a atenção dos moradores, que aprovaram o trabalho, e viram na parceria entre o poder público e Exército, a esperança de frear a epidemia de dengue que já assusta a população.
O recolhimento dos pneus despertou a curiosidade do aposentado Pedro Alcântara, que aproveitou para criticar o que ele chama de “falta de responsabilidade”, dos moradores que não se preocupam em manter os quintais, terrenos e ruas do bairro limpos.
Ele mesmo foi uma vítima recente da dengue e chegou a ficar 12 dias internado. “Não adianta eu fazer a minha parte se os outros não ligam”, ressalta.
A indignação é maior porque agora, além da dengue, o Aedes aegypti também é o responsável pela febre chikungunya e Zika vírus, doença grave que vem provocando casos de microcefalia em todo o país. Em Mato Grosso do Sul são nove casos sob investigação.
Também revoltada com o descaso de vizinhos estava a merendeira Irene Fátima Gomes. Ela diz que na escola estadual Rachid Saldanha, onde trabalha, toda semana há alunos com sintomas de dengue e acredita que enquanto a população não se comprometer de fato com o problema, os índices continuarão crescendo.
E é visível o descaso de muitos moradores com a manutenção da limpeza das ruas e terrenos. Apesar de o último LIRA (Levantamento Rápido do Índice de Infestação por Aedes aegypti ) apontar o Jardim Noroeste como um dos bairros com maior infestação do mosquito, é comum observar lixo espalhado nas ruas, sem contar o lixão improvisado pelos próprios moradores, onde é feito o descarte de todo tipo de material.
“Eu sei que é proibido, mas tem dia que preciso atear fogo no lixo porque o pessoal joga as sacolas de qualquer jeito e a sujeira acaba espalhando”, conta Irene.
Como a única via asfaltada no bairro é a Rua Vaz de Caminha, onde há a linha de ônibus, a falta de pavimentação nas demais ruas acaba incentivando a atitude de moradores que deixam o lixo jogado em frente às casas, muitas, sem lixeiras de ferro.
Para a dona de casa Célia Aguirre da Silva, que trabalha na bicicletaria do marido, visitada pelos militares, a presença do Exército deverá intimidar os moradores, contribuindo com a conscientização.
Mesmo sabendo que nesta primeira fase eles não entrarão nas residências, ela acredita que simples presença da equipe vai impor respeito.“Muita gente aqui não deixa os agentes de saúde entrarem em casa. Agora acho que vão respeitar mais”, ressalta.
Mãe de um bebê de 1 ano, ela teme que uma das três doenças transmitidas pelo Aedes aegypti chegue e sua família, mesmo tomando os cuidados básicos de limpeza. “Mantenho meu quintal sempre limpo. Não deixo acumular nada de garrafas nem latas”, destaca.
Em outro bairro também visitado na manhã desta quarta-feira pelas equipes da Sesau e Exército, os moradores também esperavam maior conscientização. “O povo ainda não percebeu a gravidade das doenças e não é zeloso com suas casas. Qualquer pessoa pode ser infectada”, afirma a aposentada Elza Maria de Souza, que também aprova a presença dos militares na esperança de ajudar os agentes a entrarem no imóveis onde são barrados.
Cronograma - Ao todo, 150 militares divididos em nova equipes irão realizar, durante dois meses, o serviço de coleta de pneus nos bairros com maior infestação do mosquito, como o Nova Campo Grande, Coophavila II, Guanandi, Lageado, Tiradentes, Noroeste, Nova Lima, Cruzeiro e Rancho Alegre.
Nesta quinta-feira (10), uma outra fase da parceria começa a entrar em ação. É a montagem de duas unidades móveis hospitalares, que serão montadas em frente aos postos de saúde da Vila Almeida e Universitária.
As barracas vão ampliar em 20 leitos a capacidades dessas unidades de saúde. Vai ser possível fazer coleta de sangue, aplicação de medicamentos, e outros atendimentos médicos relacionados as doenças transmitidas pela mosquito, além de ampliar a capacidade ambulatorial.
O Exército irá disponibilizar as barracas e a prefeitura os enfermeiros e médicos para fazer o atendimento à população.
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